Não
é significativo que a língua inglesa chame as bebidas alcoólicas
pelo nome de “spirits”? Donde essa curiosa sugestão? Penso que
ela tem origens religiosas. No Pentecostes, os discípulos foram
possuídos pelo Espírito, falaram e entenderam línguas que até
então lhes eram desconhecidas, e os circunstantes tiveram a nítida
impressão de que estavam bêbados. Pentecostes é loucura, nonsense,
a quebra das regras familiares de compreensão, a revelação de um
conhecimento que havia permanecido oculto até então, é Babel ao
contrário. A sabedoria emerge da loucura. Aquilo a que damos o nome
de “realidade” é “feitiço”. “É preciso fazer parar o
mundo”, dizia D. Juan, o bruxo. Se isso não acontecer, ele não
poderá ser visto com olhos diferentes.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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