A
mulher do intendente-geral saiu de casa pela manhã para ir ao
cabeleireiro, mas ao cabeleireiro ela não chegou.
A
meio caminho viu o bando de crianças que dançava em torno de um
mico, e o mico tocava rabeca. Ficou tão encantada com a alegria
reinante que resolveu incorporar-se ao grupo, e lá permaneceu
dançando. Dançando e cantando, como todos faziam.
Juntou
gente na praça, e o inspetor de veículos, escandalizado, foi avisar
ao intendente-geral que sua excelentíssima esposa tinha regredido à
infância.
O
marido correu ao local e, com severidade, chamou a mulher ao respeito
das conveniências. Ela estendeu-lhe os braços, sorrindo e
dizendo-lhe: “Vem”. Mas o intendente-geral não quis atendê-la e
saiu furibundo, exclamando que daquele momento em diante não era
mais casado.
O
mico da rabeca, sempre tocando, afastou-se, e as crianças o foram
seguindo. A mulher do intendente-geral, também. À proporção que
caminhavam, ela ia ficando do tamanho das meninas, e quando sumiram
na volta da estrada era uma criança igual às outras. Dançando e
cantando.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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