Hoje
eu colocarei pequenas lâmpadas em todos os lírios, e acenderei os
campos da Terra para que a Lua, quando nasça, pense que está
bêbada, e que o Infinito virou ao contrário, e vomite sobre o Mundo
uma galáxia multicor.
Depois
me mandarei a Marte (mandar-me-ei a Marte)? num foguete
interplanetário onde haja um único LP (e a quem decifrá-lo, em
cartas à redação, eu, esfingético, o devorarei).
E
partirei para a ignorância, com Jayme Ovalle, Arletty e
Katchaturian, pregando rabos de papel em futuros camelôs da
República e desenhando a carvão sobre os muros brancos a fórmula
da desagregação da rosa.
Mas
que não me exorcizem os clérigos, nem que prendam os “tiras”,
pois eu os perfurarei de semifusas com a minha guitarra automática,
e se forem muitos, os debandarei com violentas granadas mias.
Porque
ou muito me engano ou tomarei um pileque de Arpège e beijarei
novamente o rosto do poeta Carlos, e mergulharei no largo do Passeio
Público para procurar meus óculos, enquanto o arquiteto Carlos
arranca os cabelos, e depois reinventarei a TV com o desenhista
Carlos, e terminarei dando um balão no compadre Carlos, de cujo
mármore será feita a minha lápide.
E
que não me venham dizer que é tarde, que não há divisas e Feu
Mathias Pascal quer dizer que ele morreu. Tampouco vociferem contra o
cravo, contra Tchaikovski e contra as panelas a jacto. Cabe de tudo
neste mundo, filhos meus. Não é à toa que os homens do Nepal não
querem nada com as mulheres de Cochabamba. Mais vale um mamão na mão
que uma mão no pé. É ou não é? Purque si num fô eu vô contá
pa Exu ti castigá fazê mandinga cantá maringá acarajé camocim
sobral.
E
depois há o problema da transcendência do mito, da ubiquidade do
pito e do werbundenshaft. Mas eu partirei, altivo e desdenhoso, e
deixar-me-ei, esquivo, lá onde Zaratustra vivia rododendro as unhas
de inveja de Prometeu.
E
cantarei a caraboo comendo carambolas no quintal de meu ex-avô. E
porei borboletas em moringas, sapatos em geladeiras e faturas em
cavernas. Abúlico, seguirei a rota de Livingstone para ir desaguar
no Elephant Blanc. Beberei champanha em fêmures e erguerei um brinde
à ordem nova. Nova, uma ova! Ordem era a ordem-unida com a moçada
marchando firme ali pelo Ibirapuera um-dois-feijão-com-arroz o
sargento Carlão gritando alto! pra comê umas melancias a gente se
rindo cutuba!
É
Flórida. Em verdade vos digo que é Flórida, é mais que Flórida é
Florença, e mais que Florença é Florianópolis. E antes que venha
Floriano, reelejamos Deodoro. Ou dê, ou doro! E necalina de
virivizera, senão eu chamo o Moringueira pra lhe passar uma
rasteira, e eu sei que ele não se restringe de lhe riscar uma
solinge desde o maneco até a esfinge. Tá bom? Porque a verdade é
que é tudo mu-munha, MU-MUNHA! E não me venha com essa história de
Crato que eu sou é de Fortaleza, j'oviu? e conheço Gilberto,
Antiógenes, e João Condé, j'oviu? E sou dono de boate em Maceió e
de serviço de marinete em Feira de Sant'Ana e tenho mucho dinheiro
para comprar até bomba de gasolina feito o Frederico C. esse homem
bom cabra da peste com nome de navio, que quase que trouche Marlene
mas trouche Sara Vagão, o danado do homem trouche, homem danado!
Sabem
que foi Saleuco? Scotus? Schutzenberger? Conhece Seleções? Qual é
o seu I.Q.? Acaso dir-me-ia o que é, dir-me-ia, acaso, o que é
diácope?
É
inútil, ó Revisor. Não é mesmo para entender. Remember Stanislaw.
Não toqueis! Noli me tangere! Não é tangerina não que eu queria
dizer, ouviu, Revisor?
Montevideanamente
vosso...
Vinicius
de Moraes, in Para viver um grande amor
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