Miúdo
soltou uma praga retumbante, digna
do vovô, e então começou a limpar a bagunça melhor que pôde.
Logo descobriu que a maior parte da terra fora jogada de volta nos
buracos, e estava diligentemente tirando a terra, trabalhando fileira
abaixo, quando notou que um dos buracos, perto do final, for
especialmente devastado: parecia que o tinham arrancado, mastigado e
amassado. Sacudindo a terra úmida de seus dedos, Miúdo
foi investigar.
A
terra em volta do buraco fora arrancada até a camada de argila; os
cortes e sulcos feitos pelas presas eram visíveis na beirada. A
destruição concentrada confundiu Miúdo,
até que começou a cavar o
buraco. Quase no fundo, semienterrado, encontrou um patinho
recém-nascido, as penas emaranhadas numa bola de matéria lamacenta.
Miúdo
ficou perplexo. Pelo que
soubesse, não havia patos em seu rancho ou no de nenhum vizinho, e
nunca ouvira falar em patos fazendo ninhos no topo de uma colina.
Segurando-o no berço de sua mão esquerda, Miúdo
o levou de volta para casa a
fim de ver o que vovô achava.
– Que
porra é essa? –
guinchou vovô quando Miúdo
colocou o patinho coberto de
lama na mesa da cozinha, onde Jake estava terminando a quarta xícara
de café e lendo um velho número da revista Argosy.
– Um
patinho, bebê, acho eu – disse Miúdo,
e foi explicando como e onde
encontrara o pássaro enquanto vovô o examinava olhando bem de perto
e ocasionalmente cutucando-o com o dedo enrugado, murmurando para si
mesmo:
– Mal
tá vivo, exceto pela batida do coração, e mesmo essa tá fodida –
olhou para Miúdo: –
Tem certeza de que foi o
Cerra-Dente?
– Foi
– Miúdo afirmou
com a cabeça. - As pegadas estavam no barro… a não ser que você
conheça outra coisa que pudesse deixar uma pegada de porco de 15 cm
de comprimento, afundada na lama com um dedo de profundidade por
causa do próprio peso.
– E
você disse que o buraco onde o encontrou estava todo desmanchado?
– Como
o diabo.
– Bem,
puta que pariu – vovô chacoalhou a cabeça –, aposto
que que o velho Cerra-Dente passou a noite tentando comer o pobre
pássaro fodido – riu
com prazer. – Deve
ter deixado ele totalmente louco, um tenro petisco, tão pero, mas
fora de alcance.
Miúdo
sorriu:
– Posso
até ver o porcalhão com a fuça enfiada no fundo do do buraco,
babando e mascando.
– Provavelmente,
não foi tão divertido pra esse pobrezinho aí –
vovô gesticulou na direção
do patinho enlameado sobre a toalha de linóleo vermelha e branca que
cobria a mesa. – Deve
ter sido como ficar olhando a ponta do cano duplo de uma calibre 12 –
o patinho se agitou
fracamente, como que se lembrando da visão.
Vovô
rapidamente se inclinou e pôs o ouvido no peitinho do animal.
Escutou atentamente.
– Meu
Deus do céu – latiu,
erguendo-se num arranco –,
o coração tá começando a
pifar. Miúdo, pega a garrafa do Velho Sussurro no armário. Isto
exige primeiros-socorros de emergência.
Enquanto
Miúdo pegava a garrafa do melhor produto do vovô, este tirava o
conta-gotas de um remédio para desentupir o nariz. Quando Miúdo
desenroscou a tampa e pôs a garrafa sobre a mesa, afastando-se
levemente dos vapores, vovô encheu o conta-gotas e, abrindo o bico
do patinho com a mão, deu um forte aperto na borracha, descarregando
o líquido.
Os
efeitos foram instantâneos: o patinho, os olhos saltando, começou a
se debater pela mesa, piando selvagemente.
– Bom,
fizemos o coração bater bem –
sorriu vovô, radiante. –
Agora é melhor a gente dar
uma lavada nele e ver como fica.
Uma
hora mais tarde, seco e fofo, o patinho corria pela mesa, acenando
com os tocos de asa e piando alegremente.
– De
qualquer maneira, como é que você acha que ele foi parar naquele
buraco? – Miúdo
perguntou enquanto ele e Jake observavam as traquinagens do
animalzinho.
– Macacos
me mordam se eu souber… nem mesmo tenho uma teoria interessante.
– Não
faz sentido nenhum.
– Tenho
certeza que não seria a primeira vez –
resmungou vovô. E então, de
modo mais incisivo: – Vamos
ficar com ele? Ou ela, como pode ser o caso.
– Claro,
pelo menos até se curar.
– Merda,
ele já parece bem curado. Olha só, brincando na mesa.
– Quero
dizer, até que ele cresça o bastante pra cuidar de si mesmo.
– Bem,
então é melhor dar um nome pra essa criatura, assim a gente sabe de
quem está falando.
Miúdo
sorriu.
– Já
pensei num nome muito bom –
fez uma pausa de efeito. –
Buraco de Estaca.
– Esse
é bonzinho –
vovô concordou –,
mas eu tenho um que é
realmente muito bom:
Fup.
– Fup
– Miúdo
repetiu de maneira vaga.
Vovô
presenteou com seu sorriso sardônico completo, com todos os cinco
dentes:
– Pato
Fup. Percebeu? Pato fodido… fodido o pato… Fup.
– Esse
nome é terrível –
gemeu Miúdo.
Jim
Dodge, in Fup
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