O
locutor esportivo mais festejado em 1929 foi Anselmo Fioravanti, que
não entendia de futebol e por isso inventava.
Sua
estreia ao microfone gerou uma tempestade de protestos. Os ouvintes
exigiam sua dispensa, mas o diretor da estação considerou que
muitos outros se pronunciaram encantados com Anselmo, classificado
como humorista de primeira água. Foi mantido, e sua atuação
despertou sempre o maior sucesso. Jogo narrado por ele era muito mais
fascinante do que a verdadeira partida.
Anselmo
creditava o gol ao time cujo arco fora vazado. Trocava os nomes dos
jogadores, invertia posições e fazia com que o clube derrotado
empatasse ou ganhasse, conforme a inspiração do momento. Na
verdade, ele não mentia. Apenas, ignorava as regras mais comezinhas
do esporte e contava o que lhe parecia estar certo.
Torcedores
e agremiações o tinham em alta conta, porque ele mantinha aceso o
interesse pelo futebol. Os vencedores de fato não se magoavam com a
informação contrária, pois a vitória era inquestionável. E os
derrotados consolavam-se com o triunfo imaginário que ele
generosamente lhes concedia.
De
tanto assistir a jogos, um dia ele narrou corretamente um lance.
Houve pênalti e Anselmo anunciou pênalti. Foi a sua desgraça.
Nunca mais ninguém lhe prestou ouvidos, e Anselmo terminou os dias
como gari em Vila Isabel.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
Adorei! Muito bom!!
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