Certo
homem chamado Loio era ouvido pelos amigos sobre questões que diziam
respeito ao interesse comum, e emitia juízos acertados.
— O
Loio é o nosso líder — diziam eles. — Cabeça fria está ali.
— E
coração quente — rematavam outros. — Sabe o que se deve fazer e
tem um sentimento muito forte de solidariedade.
O
que tornava Loio querido e respeitado pela roda é que, no fundo, ele
não fazia mais do que descobrir o que cada um desejava e não sabia
dizer com clareza. Loio era intérprete.
Seu
nome começou a ser apregoado fora do círculo de amigos como o de
bom candidato para tudo: dirigente de empresa, senador, defensor
público, presidente da Nuclebrás e até da República.
Sondado
a respeito dessas possibilidades, Loio abanou a cabeça
negativamente:
— Nada
disso. Os amigos, eu entendo bem o que eles querem e traduzo. Mas é
dificílimo entender aquilo com que vocês me acenam. E eu receio
que, se chegasse a entender, sairia correndo o resto da minha vida
para não me envolver nessas coisas. Com licença, estou ocupado.
Até.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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