Disse
o Riobaldo e eu digo “amém”. “Todo-o-mundo é louco. O senhor,
eu, nós, as pessoas todas. Por isso que se carece principalmente de
religião: para se desendoidecer, desdoidar. Eu, cá, não perco
ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio...
Uma só, para mim, é pouca... Rezo cristão, católico, embrenho a
certo; e aceito as preces de compadre meu Quelemém, doutrina dele,
de Cardéque. Mas, quando posso, vou no Mindubim, onde um Matias é
crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a Bíblia, e
ora, cantando hinos belos deles...” (João Guimarães Rosa).
Espantei-me quando li. Ecumenismo maior não pode existir. Se o
Riobaldo fosse cardeal, ah! Sua Santidade, Bento XVI ia ter um
trabalhão...
Acontece
assim comigo também: não perco ocasião de religião. Tenho sangue
de católico. Meu avô ia ser padre. Se tivesse sido, este texto não
existiria. Lá no sobrado de vidros coloridos, no sótão, entre as
telhas e o forro, ficavam guardadas as velharias numa canastra. Entre
elas, uma carta do meu avô, interno do Caraça, já vestido de
batina preta, dirigida ao seu pai, pedindo dez tostões para comprar
uma batina nova porque a sua já estava velha. Tenho também sangue
de espírita, que eles chamam de espiritualista ou kardecista,
qualquer nome é bom.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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