Entre
a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na
primeira parte do livro. O principal deles foi a invenção do
emplasto Brás Cubas, que morreu comigo, por causa da moléstia que
apanhei. Divino emplasto, tu me darias o primeiro lugar entre os
homens, acima da ciência e da riqueza, porque eras a genuína e
direta inspiração do céu.
O
acaso determinou o contrário; e ai vos ficais eternamente
hipocondríacos.
Este
último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade
do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o
casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa
fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não
padeci a morte de Dona Plácida, nem a semidemência do Quincas
Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que
não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que sai quite com a
vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do
mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira
negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
Machado
de Assis, in Memórias póstumas de Brás Cubas
Nenhum comentário:
Postar um comentário