O
pardal pousou na janela e ficou espiando o interior do quarto, onde
havia muitos livros.
O
homem, debruçado sobre a mesa, não percebeu a chegada do pardal. Ao
olhar distraidamente na direção da janela, viu o pássaro imóvel e
observador.
O
homem não se alterou. Prosseguiu no trabalho, que era o de tirar
coisas invisíveis da cabeça e colocá-las no papel.
O
pardal prestava atenção ao movimento do braço e da cabeça, que às
vezes fazia um sinal afirmativo, outras negativo. Também reparou que
os lábios dele ora se contraíam, ora esboçavam sorriso.
Nisto
se passou bem meia hora. O pardal não tinha pressa, e o homem
continuava na sua operação. De repente, o homem pegou do papel onde
botava as coisas invisíveis que tirava do cérebro e, com um gesto
brusco, fez dele uma bola e atirou-a ao chão.
— Diabo
desse pardal que não me deixa escrever o que eu quero! — exclamou.
— Eu
estava achando linda a brincadeira desse homem, e ele me assustou —
queixou-se o pardal, batendo em retirada.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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