Aquele
homem era evitado em sociedade porque, ao chegar à festa, chovia
muito, e ao sair caía outro pé-d’água. Nos grandes jantares, a
chuva não se interrompia e até, inexplicavelmente, rorejavam pingos
na sala, em torno dele.
Não
recebendo mais convites, e gostando de reuniões, teve de
transferir-se para os restaurantes, mas sua presença continuava a
provocar precipitação de água. No fim de certo tempo, os gerentes
ligaram uma e outra coisa, e proibiram-lhe a entrada em seus
estabelecimentos.
Condenado
a comer sozinho em casa, ele sofria de solidão e tentava
restabelecer contatos sociais. A muito custo, obteve convite para um
ajantarado modesto, no subúrbio, e tudo foi bem até a hora do café.
Nesse momento uma nuvem escureceu o ar, e desabou sobre a casa um
dilúvio que a mergulhou em verdadeira catarata, jogando-a ao solo
como se fosse feita de papel. Morreram todos, inclusive o convidado.
O
dr. Maximus Gervasius, que fez a autópsia do promotor de chuva,
verificou em seu organismo curiosa anomalia: a existência de um
órgão que atuava sobre a atmosfera, em determinadas circunstâncias,
provocando aguaceiro. Lamentou que essa propriedade não houvesse
merecido a atenção dos poderes públicos, para utilização nas
zonas desérticas do país.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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