I
Um
macaco não pode fingir de homem porque é demasiadamente parecido
com um homem.
II
Quando
digo que a lua vem andando esguia como um lírio, estou muito mais
próximo da verdade do que se a comparasse a uma foice, uma gôndola
etc.
III
Um
poema é uma Nau do Descobrimento.
IV
Quem
lê um poema é como se de súbito ouvisse gritarem do topo do
mastro: “Terra à vista! Terra à vista!”
V
Às
vezes o gajeiro grita: “Homem ao mar!” Em vão: ninguém o pode
salvar. Foi um leitor que caiu do poema como “a camélia que caiu
do galho”... Ele, porém, foi cair (ou já estava) num banco de
praça e não morreu nem nada, tanto assim que diz a seu vizinho,
apontando-lhe estas linhas: “Esses poetas...” E ambos sacodem a
cabeça, sacodem irresistivelmente as respectivas cabeças como
bonecos de engonço.
VI
Ou
serão mesmo bonecos de engonço?
VII
Mas
uma rosa — num poema — é sempre a primeira rosa.
Mário
Quintana, in Vaca e o hipogrifo
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