No
fim da vida, ele possuía grande coleção de medalhas, todas obtidas
por merecimento. Havia as de curso primário, as de curso médio, as
de universidade, as de natação, as de fidelidade partidária.
Ganhara medalha por ato de bravura e por assiduidade ao serviço.
Medalha de literatura e medalha de pintor de domingo. Medalha de
benemérito de várias instituições consideradas de utilidade
pública. Muitas medalhas.
Esquecia-me
de mencionar a medalha de sofrimento, que lhe deram por haver
suportado sem queixa a amputação de uma perna em consequência de
desastre na via Dutra. Sua resignação fora exemplar, e a medalha,
cunhada especialmente para ele.
Contemplava
todas essas medalhas sem orgulho, mas com algum prazer, e só não
gostava de pegar em uma delas. A medalha de silêncio, conquistada
por haver mantido discrição num caso de segurança nacional. Seu
depoimento salvaria um inocente, mas, fiel a seus princípios, não
quis pôr em xeque os altos interesses do Estado, ou que lhe pareciam
tal. Esta distinção o deixava triste. Ao morrer, pediu que jogassem
todas fora.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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