Mais
triste do que um escritor virar seu próprio discípulo é quando ele
vira um dos seus próprios personagens. No fim da vida, vejam só o
que aconteceu com Tolstói. De senhor invisível e ubíquo que era,
corporificou-se enfim num daqueles fanáticos que abundavam na Rússia
do seu tempo, os chamados “inocentinhos”, o último dos quais
nada tinha de inocente: Rasputin.
Romancista
mesmo é aquele cujas criaturas assumem vida própria e não lembram
o pai. Ainda no outro dia dizia eu ao nosso Josué Guimarães que o
que tinham de bom os seus personagens é que não se pareciam com
ele. Um elogio, como se vê.
Pois,
embora possa servir eventualmente de ótimo material, o eu de um
romancista sempre é “le haissable moi”.
E,
por exemplo, que pensaria ele, o velho Machado romancista, do
burocrata Joaquim Maria Machado de Assis, tão pontilhoso, ou do
acadêmico do mesmo nome, tão convencional?
Creio
que pensaria isso mesmo…
Mário
Quintana,
in A
vaca e o hipogrifo
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