domingo, 22 de setembro de 2019

Face ao silêncio

Chegar a não apreciar nada mais do que o silêncio - isto é realizar a expressão essencial do fato de viver à margem da vida. Nos grandes solitários e nos fundadores de religiões, o elogio do silêncio tem raízes muito mais profundas do que se imagina. Para isto é preciso que a presença dos homens já tenha exasperado, que a complexidade dos problemas tenha repugnado a tal ponto, que nada mais tem interesse, à exceção do silêncio e dos gritos.
A lassitude conduz a um amor ilimitado do silêncio, pois ela priva as palavras de seu significado para fazer delas sonoridades vazias; os conceitos diluem-se, o poder das expressões atenua-se, toda palavra dita ou escutada afasta-se, estéril. Tudo o que vai ao exterior, ou que vem dele, permanece um murmúrio monocórdio e longínquo, incapaz de despertar o interesse ou a curiosidade. Parece então inútil dar um parecer, tomar uma posição ou impressionar alguém; os ruídos antes renunciados juntam-se ao tormento da alma. No momento da solução suprema, depois de ter empregado uma louca energia para resolver todos os problemas e afrontado a vertigem dos cumes, encontra-se no silêncio a única realidade, a única forma de expressão.
Emil Cioran, in Nos cumes do desespero

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