Qual
é o melhor começo de filme que você já viu? Lembro de três. Um
ficou na história porque foi a primeira vez, salvo desmentido do
Goida, que se fez prólogo no cinema. Ou seja, uma sequência inteira
antes de aparecerem o título e os créditos. Comandos ingleses
desembarcam na África do Norte. Atacam uma fortificação alemã,
metralham tudo e todos até serem dizimados também. No final da
sequência, um dos comandos, antes de morrer, pergunta a um soldado
alemão: “Conseguimos pegá-lo?”. O alemão sorri e faz que “não”
com a cabeça. Surge o título do filme: A raposa do deserto.
Sobre o indestrutível marechal Rommel. Outro começo antológico é
o de Janela indiscreta, de Hitchcock. A câmera passeia por um
interior. Numa única tomada, mostrando só objetos e fotos, sem o
auxílio de uma palavra na trilha sonora, ela nos diz quem é e o que
faz o dono da casa e como foi o seu acidente. No fim da tomada a
câmera sobe pela perna engessada de Stewart e, quando enquadra o seu
rosto, olhando pela janela, já sabemos tudo que precisamos saber
sobre ele e sobre a situação. Não fosse Hitchcock o rei da síntese
visual. Mas o melhor começo de todos, para mim, é o de Yojimbo –
o guarda-costas (ou é o outro, chamado, se não me falham os
neurônios, Sanjuro?). O samurai do Kurosawa vem por uma
estrada e chega a uma encruzilhada. Não sabe que caminho escolher.
Nisto, por um dos caminhos, surge um cachorro com alguma coisa na
boca. Quando chega perto vê-se o que ele tem na boca: é uma mão
decepada. O samurai não hesita. Segue pelo caminho por onde veio o
cachorro, sabendo que no fim daquela estrada encontrará emprego.
Você certamente terá começos melhores. Por favor, não os mande.
Morro com estes.
Luís
Fernando Veríssimo, in Banquete com os deuses
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