quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Malváceo

O dedo apontando o céu
(Sendo picado por uma estrela,
Ferrão luminário)
Desviou a atenção da própria mucilagem
Anunciada na mitomania do hibisco,
Amaciada na pele já amaziada
Com o mel das abelhas
Que ritualizam aéreos gestos
De uma colmeia imaginária;
O imaginário que perfura o real
Como perfura a pele prenhe
De microfissuras como de dentes operados.
Meu dente é a caixa de Pandora,
Meu dente da frente,
Hiperinflação de imaginário pós-operatório
Querendo perfurar o real,
Relando nele como pincel de dentista,
Como broca de artista.
O hibisco, sonhando com seu próprio exotismo
Como um mimo,
Se transformou em rosa-de-sarom.
.
No escuro, uma luz paraplégica,
Um brilho lento,
A agressividade de uma microcosmogonia
Suave resplende.
Mas nada se expande,
Só uma luz aqui, um brilho ali esplende;
Um lume meio nume que, parcimonioso,
Não se entende a não
Ser como uma parte
Menos escura da escuridão.
.
Agora, com nossos deuses mortos,
Ou melhor, ausentes,
Podemos amar no poema.
Podemos dilacerá-lo,
Fazê-lo vibrar em todos
Seus recursos e procedimentos.
Agora, podemos compreender
Que o poema faz o amor,
E que tudo o que você sente
Já antes foi testado
Em alguma rima,
Métrica ou som motivado.
.
O horizonte bruxuleia.
Um coven de taturanas
Concilia cores fortes
Como queimaduras.
Conluio de fogo
Que esbraseia
O território verde
De misteriosa mata.
Carlos Eduardo Marcos Bonfá

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