— Alô,
quem fala?
— Ninguém.
Quem fala é você que está perguntando quem fala.
— Mas
eu preciso saber com quem estou falando.
— E
eu preciso saber antes a quem estou respondendo.
— Assim
não dá. Me faz o obséquio de dizer quem fala?
— Todo
mundo fala, meu amigo, desde que não seja mudo.
— Isso
eu sei, não precisava me dizer como novidade. Eu queria saber é
quem está no aparelho.
— Ah,
sim. No aparelho não está ninguém.
— Como
não está, se você está me respondendo?
— Eu
estou fora do aparelho. Dentro do aparelho não cabe ninguém.
— Engraçadinho.
Então, quem está fora do aparelho?
— Agora
melhorou. Estou eu, para servi-lo.
— Não
parece. Se fosse para me servir, já teria dito quem está falando.
— Bem,
nós dois estamos falando. Eu de cá, você de lá. E um não conhece
o outro.
— Se
eu conhecesse não estava perguntando.
— Você
é muito perguntador. Note que eu não lhe perguntei nada.
— Nem
tinha que perguntar. Pois se fui eu que telefonei.
— Não
perguntei nem vou perguntar. Não estou interessado em conhecer
outras pessoas.
— Mas
podia estar interessado pelo menos em responder a quem telefonou.
— Estou
respondendo.
— Pela
última vez, cavalheiro, e em nome de Deus: quem fala?
— Pela
última vez, e em nome da segurança, por que eu sou obrigado a dar
esta informação a um desconhecido?
— Bolas!
— Bolas
digo eu. Bolas e carambolas. Por acaso você não pode dizer com quem
deseja falar, para eu lhe responder se essa pessoa está ou não
aqui, mora ou não mora neste endereço? Vamos, diga de uma vez por
todas: com quem deseja falar? Silêncio.
— Vamos,
diga: com quem deseja falar?
— Desculpe,
a confusão é tanta que eu nem sei mais. Esqueci. Chau.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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