terça-feira, 6 de agosto de 2019

Capítulo 119 - Parêntesis

(Haverá uma crítica tão perversa que possa atribuir a minha opinião sobre la Bruyère à inveja das suas máximas?
Eu aparo desde já esse golpe, transcrevendo algumas das que compus por aquele tempo, e rasguei logo depois, por não me parecerem dignas do prelo. Fi-las num período em que a flor amarela do capítulo 25 tomara a abrir; eram bocejos de enfado. E se não vejam:
-------------------------------------
Suporta-se com paciência a cólica do próximo.
-------------------------------------
Matamos o tempo; o tempo nos enterra.
-------------------------------------
Um cocheiro filósofo costumava dizer que o gosto da carruagem seria diminuto, se todos andassem de carruagem.
-------------------------------------
Crê em ti; mas nem sempre duvides dos outros.
-------------------------------------
Não se compreende que um botocudo fure o beiço para enfeitá-lo com um pedaço de pau. Esta reflexão é de um joalheiro.
-------------------------------------
Não te irrites se te pagarem mal um benefício: antes cair das nuvens, que de um terceiro andar.)
Machado de Assis, in Memórias póstumas de Brás Cubas

Nenhum comentário:

Postar um comentário