Os livros
que amo são aqueles que se tornam meus companheiros vida afora. É o
caso do livro Do sentimento trágico da vida, de Miguel de
Unamuno. Lembrei-me dele, tirei-o da estante, passei os olhos. É uma
brochura vagabunda, papel jornal, está todo desmilinguido, cheio de
anotações. Fiquei feliz ao devorar de novo pedaços daquele homem
que nunca vi, que já morreu. Quero repartir com vocês algumas das
coisas que ele disse. “Pelo que me diz respeito, jamais de bom
grado me entregarei, nem outorgarei a minha confiança a um condutor
de povos que não esteja penetrado da ideia de que, ao conduzir um
povo, conduz homens, homens de carne e osso, homens que nascem,
sofrem e, ainda que não queiram morrer, morrem; homens que são fins
em si mesmos e não meios...” “Não existe um só que, chegando a
distinguir o verdadeiro do falso, não prefira a mentira que ele
encontrou à verdade que um outro descobriu.” “A ciência é um
cemitério de ideias mortas, ainda que delas saia a vida. Também os
vermes se alimentam de cadáveres. Os meus próprios pensamentos, uma
vez arrancados das suas raízes no coração, transportados para esse
papel, são já cadáveres de pensamentos.” “Podemos ter um
grande talento e sermos estúpidos de sentimentos e moralmente
imbecis.”
Rubem
Alves, in Ostra
feliz não faz pérola
Nenhum comentário:
Postar um comentário