A
saudade é flor que só floresce na ausência. É nela que se dizem
as orações suplicando dos deuses a graça da repetição da beleza.
E é só para isso que existem os deuses: para garantir o retorno do
belo.
O
que meu coração deseja não é navegar para o futuro. O futuro é o
desconhecido. E por mais que eu dê asas à minha imaginação não
consigo amar o que não conheço. Pode ser que ali se encontrem as
coisas mais maravilhosas – mas, como eu nunca as tive, não posso
amá-las. Não sinto saudades delas. A saudade é um buraco na alma
que se abriu quando um pedaço nos foi arrancado. No buraco da
saudade mora a memória daquilo que amamos, tivemos e perdemos:
presença de uma ausência.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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