sexta-feira, 31 de maio de 2019

Um pouco de teoria

É isso que Martin chama de cerco. Com sua vasta experiência, chegou à conclusão de que o mais difícil, para qualquer um que tenha grandes exigências numéricas nesse campo, não é tanto seduzir uma jovem quanto conhecer um número suficiente de jovens ainda não seduzidas.
Acha que devemos constantemente, em todos os lugares e circunstâncias, proceder ao cerco sistemático das mulheres ou, em outras palavras, anotar num caderno ou em nossa memória o nome das mulheres que nos agradaram e que um dia poderemos abordar.
A abordagem é um grau superior de atividade e significa entrar em contato com esta ou aquela mulher, conquistar a sua amizade e o acesso a ela.
Aqueles que, com presunção, gostam de se voltar para o passado, insistem no número de mulheres conquistadas; mas aqueles que olham para a frente, para o futuro, devem primeiro se preocupar em dispor de um número suficiente de mulheres cercadas e abordadas.
Além da abordagem, só existe um único e último grau de atividade, e quero acentuar, para agradar a Martin, que aqueles que aspiram somente a este último grau são homens miseráveis e inferiores que lembram certos jogadores de futebol do interior que vemos se lançar de cabeça baixa na direção do gol do adversário, esquecendo-se de que para marcar um ou mais gols não basta o desejo frenético de chutar, mas é preciso primeiro jogar em campo um jogo consciencioso e sistemático.
Você acha que algum dia vai ter oportunidade de ir vê-la em Puzdrany? — perguntei a Martin quando retomamos a estrada.
Nunca se sabe — respondeu ele.
Em todo caso — observei —, o dia está começando bem para nós.
Milan Kundera, in Risíveis Amores

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