No
seu livro A história natural dos sentidos, Diane Ackerman
especula sobre o que um visitante de outra galáxia pensaria do que
comemos. Se o extraterrestre resolvesse dar um jantar de
confraternização na nave-mãe para representantes de todos os povos
da Terra, teria dificuldade em organizar o menu e mais dificuldade
ainda em conter a ânsia de vômito.
Sendo
um ser perfeito que se alimenta só de luz líquida, como todos os
alienígenas hipotéticos, nosso visitante não entenderia como os
alemães conseguem comer repolho azedo com tanta alegria, por que os
americanos chamam o pepino estragado de pickles e o comem com
tudo, os franceses esperam o peixe apodrecer antes de comê-lo e os
japoneses nem esperam o peixe morrer. E por que todos se entusiasmam
com um fungo que chamam de champignon e entram em êxtase com
outro chamado “trufa”, que é encontrado embaixo da terra por
porcos. Mas o que realmente faria o extraterrestre correr para o
banheiro da nave seria descobrir que os terrestres espremem um
líquido branco e gorduroso das glândulas mamárias de um animal
chamado “vaca” — e o bebem! De volta do banheiro, nosso
anfitrião talvez se deparasse com um italiano destrinchando um
passarinho com os dentes e tivesse que sair correndo outra vez.
O
visitante não acharia nada de mais com o pão, o alimento mais
simples e são do homem. Mas ouviria o alemão contar que o pão
pumpernickel tem este nome porque pumper quer dizer
“pum” e Nickel quer dizer o diabo, e que o pão é tão duro que
até o diabo solta puns ao tentar comê-lo. Isto, aliado ao queijo
bolorento e fedorento que o francês trouxe para comer com o pão,
levaria nosso extraterreno a tomar uma decisão súbita. Expulsar
todo mundo da nave e voltar voando para a sua galáxia translúcida,
longe desta Terra de monstros.
Luís
Fernando Veríssimo, in A mesa voadora
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