domingo, 14 de abril de 2019

A verdade, que palavra!

A maior estupidez que o espírito humano já pôde conceber é a ideia da libertação por meio da supressão do desejo. Por que dificultar a vida, por que destruí-la em prol de um ganho tão estéril quanto a indiferença total, junto a uma liberação ilusória? Como ousaríamos falar ainda da vida quando a esvaziamos completamente em nós mesmos? Eu tenho mais estima pelo indivíduo de desejos contrariados, infeliz no amor e desesperado, do que pelo sábio impassível e orgulhoso. Todos deveriam desvanecer para que a vida continue tal como é.
Odeio a sabedoria desses homens não afetados pelas verdades, que não sofrem nos nervos, na carne e no sangue. Eu amo apenas as verdades vitais, as verdades orgânicas provenientes de nossa inquietude. Todos aqueles que pensam de maneira viva têm razão, pois jamais se encontrará um argumento decisivo contra eles. E mesmo que algum se apresentasse, eles não resistiriam à vida. Que algumas pessoas ainda teimem em buscar a verdade - eu, disto, somente me surpreendo. Não se compreendeu, então, que ela não existe?
Emil Cioran, in Nos cumes do desespero

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