Sigefredo
botou anúncio classificado, dizendo que perdera sua alma, com
promessa de gratificar quem a encontrasse. Não explicou — nem
podia — como a tinha perdido.
Apareceram
algumas pessoas trazendo pacotes com almas, e nenhuma era a dele. Não
se ajustavam a seu corpo, e mesmo que ele quisesse fazer experiência,
era evidente que não combinavam com o jeito de Sigefredo. E ele era
muito ocupado. Não tinha tempo a perder.
Já
se resignara a viver mesmo sem alma, quando uma noite encontrou a
desaparecida, à porta de um bar, com aparência de pobreza, mas
tranquila.
Seu
primeiro impulso foi recolhê-la, mas pensando melhor achou que não
valia a pena. A alma de Sigefredo também não manifestou interesse
em voltar para ele. Dir-se-ia que aprendera a viver por conta
própria, e mesmo naquele estado era independente.
Sigefredo
passou por sua alma sem cumprimentá-la, entrou no bar e pediu o
drinque habitual. Ao sair, viu a alma, a pequena distância, dar
alguns passos e lhe saírem dos ombros duas asas, com que ela se
alteou, voando para a Zona Norte.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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