sábado, 12 de janeiro de 2019

30/09/91 - 23:36

Assim, depois de alguns dias de cabeça vazia, acordei esta manhã e havia um título, surgiu enquanto eu dormia: Poemas da Última Noite da Terra. Era adequado ao conteúdo, poemas sobre o fim, doença e morte. Misturados com outros, é claro. Talvez um pouco de humor. Mas o título funciona para este livro e para esta vez. Quando você consegue um título, ele engloba tudo, os poemas encontram sua ordem. E eu gosto do título. Se visse um livro com um título assim, o pegaria e tentaria ler algumas páginas. Alguns títulos exageram para chamar a atenção. Não funcionam, porque a mentira não funciona.
Bom, terminei isto. E agora? De volta à novela e mais poemas. O que aconteceu com o conto? Me abandonou. Existe uma razão, mas eu não sei qual é. Se pensasse bem nisso, poderia encontrar a razão, mas pensar nisso não ajudaria em nada. Isto é, esse tempo poderia ser usado para a novela ou o poema. Ou para cortar minhas unhas dos pés.
Sabe, alguém deveria inventar um alicate decente para as unhas do pé. Tenho certeza de que pode ser feito. Os que eles nos dão são totalmente desajeitados e decepcionantes. Li que um marginal tentou assaltar uma loja de bebidas com um alicate de unha do pé. Também não funcionou. Como Dostoievsky cortava suas unhas do pé? Van Gogh? Beethoven? Cortavam? Não acredito. Eu costumava deixar que Linda fizesse isso. Ela fazia um trabalho excelente – só de vez em quando tirava um pedaço de carne. Eu já senti dor o suficiente. De qualquer tipo.
Sei que vou morrer logo e isso me parece estranho. Sou egoísta, gostaria de continuar a escrever mais palavras. Isso me dá um brilho, me joga no ar dourado. Mas, na verdade, por quanto tempo posso continuar ainda? Não é certo continuar. Diabos, de qualquer forma, a morte é a gasolina no tanque. Nós precisamos dela. Eu preciso. Você precisa. Nós emporcalhamos o lugar se demorarmos demais.
A coisa mais estranha, acho, depois que as pessoas morrem, é olhar os seus sapatos. É a coisa mais triste. É como se a maior parte da sua personalidade permanecesse em seus sapatos. As roupas, não. Está nos sapatos. Ou num chapéu. Ou num par de luvas. Pegue uma pessoa que recém morreu. Coloque seu chapéu, suas luvas e seus sapatos na cama, olhe para eles e você enlouquece. Não faça isso. De qualquer forma, agora elas sabem algo que você não sabe. Talvez.
Último dia de corridas hoje. Fiz o jogo entre hipódromos no Hollywood Park, apostando no Fairplex Park. Apostei em todos os 13 páreos. Tive um dia de sorte. Saí totalmente rejuvenescido e fortalecido. Nem mesmo me senti de saco cheio lá hoje. Me senti lépido e faceiro. Quando você está bem, é ótimo. Você repara nas coisas. Como quando, dirigindo de volta, você repara no volante do seu carro. O painel de instrumentos. Você se sente como numa maldita espaçonave. Você costura no trânsito, elegantemente, não grosseiramente – medindo distâncias e velocidades. Coisa idiota. Mas não hoje. Você está por cima e fica por cima. Que estranho. Mas você não luta contra isso. Porque você sabe que não vai durar. Dia livre amanhã. Corrida de Oaktree, 2 de outubro. As corridas não param, milhares de cavalos correndo. Tão sensatos quanto as marés, parte deles.
Até percebi um carro da polícia me seguindo na Harbor Freeway sul. A tempo. Diminuí para 90. De repente, ele ficou para trás. Mantive os 90. Eles quase me pegaram a 120. Eles odeiam os Acura. Fiquei nos 90. Por cinco minutos. Passaram por mim a mais de 120. Adeus, amigo. Odeio ser multado, como todo mundo. Você tem que usar o espelho retrovisor o tempo todo. É simples. Mas é provável que você acabe sendo pego. E quando for, agradeça por não estar bêbado ou carregando drogas. Se você não estiver. De qualquer forma, já foi multado.
E agora estou aqui em cima com o Macintosh e há um maravilhoso espaço à minha frente. Música horrível no rádio, mas não se pode esperar um dia 100 por cento. Se conseguir 51, você ganhou. Hoje foi um 97.
Vejo que Mailer escreveu uma enorme novela nova sobre a CIA e etc. Norman é um escritor profissional. Uma vez, perguntou à minha mulher: “O Hank não gosta dos meus livros, não é?”. Norman, poucos escritores gostam do trabalho dos outros escritores. Eles só gostam deles quando morrem ou se já morreram há muito tempo. Os escritores só gostam de cheirar a própria merda. Sou um desses. Não gosto nem mesmo de falar com escritores, de vê-los ou, pior, de ouvi-los. E o pior é beber com eles, se babam todos, realmente são lamentáveis, parece que estão procurando pela asa da mãe.
Prefiro pensar sobre a morte do que sobre escritores. Muito mais agradável.
Vou desligar esse rádio. Os compositores às vezes estragam tudo. Se eu tivesse que falar com alguém, acho que preferiria muito mais um cara que conserta computadores ou um agente funerário. Com bebida ou sem bebida. De preferência, com.
Charles Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio

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