segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

10/03/91 - 23:56

Hoje foi o segundo dia de apostas entre hipódromos. Em Oak Tree, onde os cavalos estavam correndo ao vivo, com transmissão pela tv, havia apenas 7.000 pessoas. Muita gente não quer dirigir aquele longo caminho até Arcadia. Para aqueles que vivem na parte sul da cidade, isto significa tomar a Harbor Freeway, depois a Pasadena Freeway e depois disso mais um tempo nas ruas da cidade para chegar ao hipódromo. É um caminho longo e quente, para ir e voltar. Sempre chego totalmente exausto.
Um escovador me ligou. “Não havia ninguém lá. É o fim. Preciso de um novo emprego. Acho que vou comprar um processador de texto e me tornar um escritor. Vou escrever sobre você...”
Sua voz estava na secretária eletrônica. Telefonei de volta pra ele e o cumprimentei por ter chegado em 2º numa aposta 6 pra 1. Mas ele estava de cara.
O escovador está acabado. É o fim”, disse ele.
Bom, veremos quantos vão aparecer amanhã. Sexta. Provavelmente mais uns mil. Não são as apostas entre hipódromos, é a economia. As coisas estão piores do que o governo ou a imprensa admitem. Aqueles que ainda estão vivos na economia se calam. Imagino que o maior negócio é a venda de drogas. Diabos, acabem com isso e quase todos os jovens vão ficar desempregados. Eu ainda sobrevivo como escritor, mas isto pode acabar da noite para o dia. Bem, ainda tenho minha pensão de idoso: US$ 943,00 por mês. Eles me deram isso quando fiz 70 anos. Mas isso também pode terminar. Imaginem todos os velhos perambulando pelas ruas sem as suas pensões. Não ignorem esta possibilidade. A dívida nacional pode nos puxar para baixo como um polvo gigante. As pessoas vão estar dormindo nos cemitérios. Ao mesmo tempo, há uma crosta de ricos que vivem acima da podridão. Isto não é incrível? Algumas pessoas têm tanto dinheiro que nem mesmo sabem quanto têm. E estou falando de milhões. E olhe para Hollywood, lançando filmes de 60 milhões de dólares, tão idiotas quantos os pobres bobos que vão assisti-los. Os ricos ainda estão lá, sempre encontram uma forma de mamar no sistema.
Lembro de quando os hipódromos estavam cheios de pessoas, ombro a ombro, bunda a bunda, suando, gritando, se empurrando até os bares lotados. Era uma época boa. Se o dia fosse bom, você encontrava uma mulher no bar e, naquela noite em seu apartamento, vocês dois estariam bebendo e rindo. Achávamos que aqueles dias (e noites) nunca terminariam. E por que deveriam? Amassos nos estacionamentos. Jogos de pulso. Bravatas e glória. Eletricidade. Diabos, a vida era boa, a vida era divertida. Todos nós éramos homens, não levávamos desaforo de ninguém. E, francamente, era bom. Trago e uma trepada. E muitos bares, bares lotados. Sem tv. Você falava e arranjava confusão. Se prendiam você por estar bêbado na rua, eles só deixavam você preso durante a noite para passar a bebedeira. Você perdia empregos e encontrava outros. Não havia por que ficar no mesmo lugar. Que época! Que vida! Loucuras estavam sempre acontecendo, seguidas por outras loucuras.
Hoje, as coisas estão em banho-maria. Sete mil pessoas em um grande hipódromo numa tarde ensolarada. Ninguém no bar. Apenas um solitário barman segurando uma toalha. Onde estão as pessoas? Há mais pessoas do que nunca, mas onde estão elas? Paradas numa esquina, sentadas numa sala. O Bush pode ser reeleito porque ganhou uma guerra fácil. Mas ele não fez nada pela economia. Você nem mesmo sabe se seu banco vai abrir amanhã. Não quero ficar me lamentando. Mas você sabe, nos anos 30 pelo menos todo mundo sabia onde estava. Hoje, é um jogo de espelhos. E ninguém tem bem certeza do que o sustenta. Ou para quem estão trabalhando na verdade. Se estiverem trabalhando.
Merda, tenho que sair disso. Ninguém parece estar se importando com o estado de coisas. Ou, se está, está em algum lugar que ninguém consegue ouvi-lo.
E eu fico por aí escrevendo poemas, uma novela. Não posso evitar, não consigo fazer outra coisa.
Fui pobre por 60 anos. Agora, não sou rico nem pobre.
No hipódromo, vão começar a despedir pessoas nos guichês, nos estacionamentos, na administração e na manutenção. Vão diminuir os prêmios. Pistas menores. Menos jóqueis. Muito menos riso. O capitalismo sobreviveu ao comunismo. Hoje, ele se devora a si mesmo. A caminho do ano 2000. Estarei morto e fora daqui. Deixando minha pequena pilha de livros. Sete mil no hipódromo. Sete mil. Não acredito. A Sierra Madre chora no nevoeiro. Quando os cavalos não correrem mais, o céu cairá, chato, amplo, maciço, esmagando tudo. Glassware ganhou o 9º, pagou US$ 9,00. Tinha apostado dez nele.
Charles Bukowski, in O capitão saiu e os marinheiros tomaram conta do navio

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