Hoje
foi o segundo dia de apostas entre hipódromos. Em Oak Tree, onde os
cavalos estavam correndo ao vivo, com transmissão pela tv, havia
apenas 7.000 pessoas. Muita gente não quer dirigir aquele longo
caminho até Arcadia. Para aqueles que vivem na parte sul da cidade,
isto significa tomar a Harbor Freeway, depois a Pasadena Freeway e
depois disso mais um tempo nas ruas da cidade para chegar ao
hipódromo. É um caminho longo e quente, para ir e voltar. Sempre
chego totalmente exausto.
Um
escovador me ligou. “Não havia ninguém lá. É o fim. Preciso de
um novo emprego. Acho que vou comprar um processador de texto e me
tornar um escritor. Vou escrever sobre você...”
Sua
voz estava na secretária eletrônica. Telefonei de volta pra ele e o
cumprimentei por ter chegado em 2º numa aposta 6 pra 1. Mas ele
estava de cara.
“O
escovador está acabado. É o fim”, disse ele.
Bom,
veremos quantos vão aparecer amanhã. Sexta. Provavelmente mais uns
mil. Não são as apostas entre hipódromos, é a economia. As coisas
estão piores do que o governo ou a imprensa admitem. Aqueles que
ainda estão vivos na economia se calam. Imagino que o maior negócio
é a venda de drogas. Diabos, acabem com isso e quase todos os jovens
vão ficar desempregados. Eu ainda sobrevivo como escritor, mas isto
pode acabar da noite para o dia. Bem, ainda tenho minha pensão de
idoso: US$ 943,00 por mês. Eles me deram isso quando fiz 70 anos.
Mas isso também pode terminar. Imaginem todos os velhos perambulando
pelas ruas sem as suas pensões. Não ignorem esta possibilidade. A
dívida nacional pode nos puxar para baixo como um polvo gigante. As
pessoas vão estar dormindo nos cemitérios. Ao mesmo tempo, há uma
crosta de ricos que vivem acima da podridão. Isto não é incrível?
Algumas pessoas têm tanto dinheiro que nem mesmo sabem quanto têm.
E estou falando de milhões. E olhe para Hollywood, lançando filmes
de 60 milhões de dólares, tão idiotas quantos os pobres bobos que
vão assisti-los. Os ricos ainda estão lá, sempre encontram uma
forma de mamar no sistema.
Lembro
de quando os hipódromos estavam cheios de pessoas, ombro a ombro,
bunda a bunda, suando, gritando, se empurrando até os bares lotados.
Era uma época boa. Se o dia fosse bom, você encontrava uma mulher
no bar e, naquela noite em seu apartamento, vocês dois estariam
bebendo e rindo. Achávamos que aqueles dias (e noites) nunca
terminariam. E por que deveriam? Amassos nos estacionamentos. Jogos
de pulso. Bravatas e glória. Eletricidade. Diabos, a vida era boa, a
vida era divertida. Todos nós éramos homens, não levávamos
desaforo de ninguém. E, francamente, era bom. Trago e uma trepada. E
muitos bares, bares lotados. Sem tv. Você falava e arranjava
confusão. Se prendiam você por estar bêbado na rua, eles só
deixavam você preso durante a noite para passar a bebedeira. Você
perdia empregos e encontrava outros. Não havia por que ficar no
mesmo lugar. Que época! Que vida! Loucuras estavam sempre
acontecendo, seguidas por outras loucuras.
Hoje,
as coisas estão em banho-maria. Sete mil pessoas em um grande
hipódromo numa tarde ensolarada. Ninguém no bar. Apenas um
solitário barman segurando uma toalha. Onde estão as pessoas? Há
mais pessoas do que nunca, mas onde estão elas? Paradas numa
esquina, sentadas numa sala. O Bush pode ser reeleito porque ganhou
uma guerra fácil. Mas ele não fez nada pela economia. Você nem
mesmo sabe se seu banco vai abrir amanhã. Não quero ficar me
lamentando. Mas você sabe, nos anos 30 pelo menos todo mundo sabia
onde estava. Hoje, é um jogo de espelhos. E ninguém tem bem certeza
do que o sustenta. Ou para quem estão trabalhando na verdade. Se
estiverem trabalhando.
Merda,
tenho que sair disso. Ninguém parece estar se importando com o
estado de coisas. Ou, se está, está em algum lugar que ninguém
consegue ouvi-lo.
E
eu fico por aí escrevendo poemas, uma novela. Não posso evitar, não
consigo fazer outra coisa.
Fui
pobre por 60 anos. Agora, não sou rico nem pobre.
No
hipódromo, vão começar a despedir pessoas nos guichês, nos
estacionamentos, na administração e na manutenção. Vão diminuir
os prêmios. Pistas menores. Menos jóqueis. Muito menos riso. O
capitalismo sobreviveu ao comunismo. Hoje, ele se devora a si mesmo.
A caminho do ano 2000. Estarei morto e fora daqui. Deixando minha
pequena pilha de livros. Sete mil no hipódromo. Sete mil. Não
acredito. A Sierra Madre chora no nevoeiro. Quando os cavalos não
correrem mais, o céu cairá, chato, amplo, maciço, esmagando tudo.
Glassware ganhou o 9º, pagou US$ 9,00. Tinha apostado dez nele.
Charles
Bukowski, in O capitão saiu e os marinheiros tomaram conta do
navio
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