A
velhice deu a Barthes a coragem para dizer aquilo que ele sempre
soubera: que os saberes, frequentemente, são as sepulturas da
sabedoria. Sabedoria não é aquilo que se obtém pela adição de
saberes. O sábio que escreveu o Tao-Te-Ching , há séculos, já
tinha percebido isso: “Os que têm saber não são sábios; os que
são sábios não têm saber”. As universidades estão cheias de
eruditos tolos. Por outro lado, conheço pessoas sem diploma que são
sábias.
A
diferença entre elas?
As
pessoas que têm saberes, cientistas e similares, têm conhecimento
do mundo e têm poder para agir sobre ele, porque saber é poder .
São muito importantes. Para se cozinhar é preciso que exista a
ciência dos fogos, dos utensílios, dos ingredientes, das panelas.
Os
conhecimentos nos dão meios para viver.
A
sabedoria nos dá razões para viver. Sábias são as pessoas que
sabem viver. Tolo é aquele que, tendo defendido tese sobre barcos e
mapas, não sonha com horizontes, não planeja viagens, não imagina
portos. Anda sempre em terra firme por medo de naufrágio.
Os
programas de escola por que nossas crianças e adolescentes têm de
passar são cadeias de saberes. Mas onde se encontra a sabedoria?
Ausente. Sabedoria não é saber científico. Não cai no vestibular.
Ela não pode ser avaliada em testes de múltipla escolha.
Rubem
Alves, in Variações sobre o prazer
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