Um
dos uruguaios campeões do mundo, Perucho Petrone, foi para a
Itália. Estreou em 1931, no Fiorentina: nessa tarde, Petrone fez
onze gols.
Na
Itália, durou pouco. Foi o goleador do campeonato italiano, e o
Fiorentina lhe ofereceu o que quisesse; mas Petrone se cansou muito
depressa das fanfarras do fascismo em ascensão. O tédio e a saudade
o devolveram a Montevidéu, onde continuou fazendo seus gols de terra
arrasada durante um tempinho. Ainda não tinha feito trinta anos
quando teve que deixar o futebol. A FIFA obrigou-o, porque não tinha
cumprido seu contrato com o Fiorentina.
Dizem
que Petrone era capaz de derrubar uma parede com uma bolada. Quem
sabe? Está comprovado, isso sim, que desmaiava os arqueiros e
perfurava as redes.
Enquanto
isso, na outra margem do rio da Prata, o argentino Bernabé Ferreyra
também disparava canhonaços com fúrias de possuído. Torcedores de
todos os clubes vinham ver a Fera, que chutava de longe,
atravessava as defesas e metia a bola com goleiro e tudo.
Antes
e depois das partidas, e também no intervalo, os alto-falantes
transmitiam um tango composto em homenagem à sua artilharia. Em
1932, o jornal Crítica ofereceu um prêmio de muito dinheiro
ao goleiro que fosse capaz de impedir que Bernabé cravasse um gol
nele. E numa tarde daquele ano, Bernabé teve que se descalçar
perante os jornalistas, para mostrar que não tinha nenhuma barra de
ferro na ponta das chuteiras.
Eduardo
Galeano, in Futebol ao sol e à sombra
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