quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Os implacáveis


Um dos uruguaios campeões do mundo, Perucho Petrone, foi para a Itália. Estreou em 1931, no Fiorentina: nessa tarde, Petrone fez onze gols.
Na Itália, durou pouco. Foi o goleador do campeonato italiano, e o Fiorentina lhe ofereceu o que quisesse; mas Petrone se cansou muito depressa das fanfarras do fascismo em ascensão. O tédio e a saudade o devolveram a Montevidéu, onde continuou fazendo seus gols de terra arrasada durante um tempinho. Ainda não tinha feito trinta anos quando teve que deixar o futebol. A FIFA obrigou-o, porque não tinha cumprido seu contrato com o Fiorentina.
Dizem que Petrone era capaz de derrubar uma parede com uma bolada. Quem sabe? Está comprovado, isso sim, que desmaiava os arqueiros e perfurava as redes.
Enquanto isso, na outra margem do rio da Prata, o argentino Bernabé Ferreyra também disparava canhonaços com fúrias de possuído. Torcedores de todos os clubes vinham ver a Fera, que chutava de longe, atravessava as defesas e metia a bola com goleiro e tudo.
Antes e depois das partidas, e também no intervalo, os alto-falantes transmitiam um tango composto em homenagem à sua artilharia. Em 1932, o jornal Crítica ofereceu um prêmio de muito dinheiro ao goleiro que fosse capaz de impedir que Bernabé cravasse um gol nele. E numa tarde daquele ano, Bernabé teve que se descalçar perante os jornalistas, para mostrar que não tinha nenhuma barra de ferro na ponta das chuteiras.
Eduardo Galeano, in Futebol ao sol e à sombra

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