sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

26/09/91 - 12:16

Recebi as provas do novo livro hoje. Poesia. Martin disse que vai dar umas 350 páginas. Acho que os poemas são bons. Assalto ao trem. Sou um velho trem a vapor, correndo para o hipódromo.
Levei umas duas horas para ler. Tenho certa prática nisso. As linhas rolam livremente e falam sobre o que quero que falem. Hoje, minha principal influência sou eu mesmo.
À medida que vivemos, caímos e somos destroçados por várias armadilhas. Ninguém escapa delas. Alguns até mesmo convivem com elas. A ideia é se dar conta de que uma armadilha é uma armadilha. Se você está numa e não se dá conta, você está fodido. Acho que me dei conta da maioria das minhas armadilhas e escrevi sobre elas. É claro, nem tudo o que escrevi foi sobre armadilhas. Existem outras coisas. Ainda assim, alguns dizem que a vida é uma armadilha. Escrever pode ser uma armadilha. Alguns escritores tendem a escrever o que agradou seus leitores no passado. Daí, estão fodidos. A criatividade da maioria dos escritores tem vida curta. Ouvem os elogios e acreditam neles. Há apenas um juiz final do que foi escrito, que é o escritor. Quando é influenciado pelos críticos, editores, leitores, está acabado. E, é claro, quando for influenciado por sua fama e sua fortuna, você pode mandá-lo flutuando rio abaixo junto com a merda.
Cada nova linha é um começo e não tem nada a ver com as linhas que a precederam. Todos começamos como novos, a cada vez. E, é claro, isto não tem nada de sagrado. O mundo pode viver muito mais facilmente sem livros do que sem encanamentos. E alguns lugares do mundo quase não têm nenhum dos dois. É claro, preferia viver sem encanamento, mas preciso dele porque estou doente.
Não há nada que impeça um homem de escrever, a não ser que ele impeça a si mesmo. Se um homem quer realmente escrever, ele o fará. A rejeição e o ridículo apenas lhe darão mais força. E quanto mais for reprimido, mais forte ele se torna, como uma massa de água forçando um dique. Não há perdas em escrever; faz seus dedos do pé rirem enquanto você dorme; faz você andar como um tigre; ilumina seus olhos e coloca você frente a frente com a Morte. Você vai morrer como um lutador, será reverenciado no inferno. A sorte da palavra. Vá com ela, mande-a. Seja o Palhaço nas Trevas. É engraçado. É engraçado. Mais uma linha...
Charles Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio

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