terça-feira, 30 de outubro de 2018

Confetis

Feito aquele enredo dos Três Mosqueteiros (olha aí a sugestão pra fantasia), os três dias de carnaval são quatro. Isso já dá uma ideia da bagunça. Uma pequena ideia.
Durante os três (quatro, cinco...) dias de pagode, imperam os disparates dos súditos de Momo Primeiro e Único, fora os outros trinta - Cidadão Samba, Cidadão Recreativista, Rei do Carnaval, as respectivas Rainhas e Princesas, D. Higiênico Sales, Marechal de Cama-e-Mesa Átero Escler Ozze, e menos votados.
Marmanjo trajando fralda suja nos fundilhos com creme de abacate...
Neros coroados de arruda tangendo mudas harpas de tábuas de privada...
Zorros de sapato-tanque ao lado dos fiéis Bêbados, isto é, Tontos...
Grandes astros internacionais cuja maior graça reside no fato indiscutível de não serem astros, nem grandes, e internacionais lá pras negas deles...
Árabes de lençol e toalha santista (os mais refinados) em busca de um oásis que venda caipirinha...
O imortal General da Banda. Melhor um General da Banda que outra banda dos generais...
Marte, o Deus da Guerra, de batom e cílios postiços, com os bordados da capa (diviiina) feitos pela mamãe (dele)...
Odaliscas de cocar bebendo uísque nacional, melindrosas com o que a baiana tem na piteira, gregas com o chapéu de tirolesa, cheirando lança...
A rainha do Carnaval (uma delas) apertada pra fazer xixi, perguntando pelo “Wanderley Cardoso”…
Cartolas enormes, próprias pros palhaços que “dirigem” nosso futebol...
Blocos de Sujo muito mais limpos que o jet-set...
Buda, logo atrás de um Preto Velho, empurrado por tapuias de cueca zorba...
A freira que é barbadinho com o hábito levantado... A Rainha Louca sentada num Círio de Nazaré. É louca mesmo, sô...
O nomezinho daquela doce gueixa é Oswaldo, torneiro-mecânico de profissão...
Que qui a cobra tá fazendo ali na Cleópatra? A transação não foi no seio?...
Santos Dumont estacionando o 14-BIS no Aterro pra ir tomar uma loura com a escurinha...
A moça nua em cima da mesa: duas listrinhas claras - tirou o bustiê, arrancaram a tanga - no corpo queimado. Zebra estilizada?...
Acima a depilação! Quer dizer, embaixo, por favor, não...
Um jacaré de rancho dança frevo em Irajá tomando mamadeira cheia de maracujá...
O Fantástico Marajá de Laori ameaçando dar uma sandalhada no Esplendor de Assurbanípal..
O Incrível Hulk, bastante emagrecido, tomando cachaça e escarrando sangue num coreto da Penha...
Escravas de correntes douradas e sandálias havaianas...
Chope, chope, chope pra afastar o calor...
Coxas, coxas, coxas pra aumentar o tesão...
A fantasia de legionário, miragem de todas as juventudes...
Palha, ráfia, isopor, paetê, fita - materiais que o BNH usará no futuro...
A Princesa Isabel sofrendo com as cólicas menstruais no desfile do Grupo III...
Um pierrô - até que enfim! - corneando o arlequim...
Mais nobreza decadente: o Rei Sol palmeando um cabo da PM...
Zumbi dos Palmares no repique, morcegos brincando à luz do dia, Clóvis na linha do trem para todo o sempre...
Aquele tampinha, perto da cabrocha e do rubro-negro de patinete, ali ó, não é o tal do general Jaruzelski?...
E, comandando a Ala do Bochincho, Tamandaré batendo o pé: - Sem minhas guias e colares por cima das medalhas, nem morta!...
Por aí afora, O negócio é aproveitar. Porque depois restauram a moralidade, refazem a Lei, recompõem a ordem, e aí, durante uns trezentos e sessenta dias imperam a seriedade do general que manda assassinar desafetos como qualquer dono de boca-de-fumo, a austeridade de um Ministro da Justiça contrabandeando joias, desfalques, desvios, escândalos!
A não ser no Carnaval, o Brasil é a maior zona.
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

Nenhum comentário:

Postar um comentário