domingo, 23 de setembro de 2018

Missão Impossível


Eu sabia que a guerra no Golfo ia sobrar pra mira. O telefone me acordou às cinco da manhã.
- Frank falando.
Frank é meu nome. Frank Drebin, tenente aposentado do Esquadrão de Polícia, disposto a terminar seus dias, principalmente, de súbito.
- Frank, aqui é o George Bush.
A mania de fazer graça dos cariocas.
- Certo, palhaço. Conta outra.
- É sério, Frank.
- Ah, vai pro caralho!
Uma hora depois bateram no meu quarto. Um cara da CIA, velho conhecido do Vietnã, reclamando que eu tinha ofendido o presidente dos Estados Unidos da América. Me desculpei. Ele disse que eu receberia instruções no dia seguinte, na filial Tijuca da Tele Rio. Não estranhei. O Brasil é um país muito louco. Toda a minha vida fui Mister isso e Mister aquilo, mas o ascensorista do hotel só me chama de Pretinha, Minha Flor, Princesa...
Como eles mesmos dizem: é de lascar!
Well, passei outro vexame na tal loja. O gerente, um baixinho parecido com o Ozires Silva, deu um berro assim que me viu:
- Oba! Você deve ser o tal agente secreto, ou coisa que o valha! Tô com uma fita pra você, gracinha!
Piscava o olho de um jeito sagaz e me dava cotoveladas. Tinha “ordens superiores” pra me vender um walkman. No táxi, a caminho do hotel, aproveitei o engarrafamento pra ouvir a fita:
- Um, dois, três, gravando! Tá no ar? “Tanto tiempo disfrutamos desse amor”. Bela voz, não? Cantei no Sílvio. Teu recado é o seguinte: procure um índio de cueca Zorba, assobiando o tema de Pantanal, na seção de importados do Paes Mendonça. Essa gravação se auto destruirá em cinco seg - seg -seg - seg...
Tecnologia brasileira. Graças ao defeitinho a geringonça explodiu nos meus cornos. Tive queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus e fui medicado no Pronto - Socorro do Andaraí, onde tu entra cajá e sai caqui.
Cheio de picrato de butezin, ossos do ofício, deixei o hospital e passei em meu hotel. Levei o maior susto. Seis homens ensaiavam um sequestro no saguão, pro Globo Repórter. Pra não ser notado, dei seis tiros numa senhora. Ninguém viu, o que é uma tradição nessa gente bronzeada.
Não achei outro táxi. Pra não perder a hora fui de chapa branca pro Paes Mendonça. O índio tava lá. Resolvi improvisar. Um ligeiro aceno de minha parte e o índio resmungou:
- Ugh!
E eu:
- Hefner.
Ele, de mau humor:
- Onde eu perder as flechas?
E eu, brilhante:
- Deep in the heart of Texas.
Ele:
- Vai pro caralho.
Fiquei perplexo.
-What?
- Vai pro caralho.
Tenho certeza de que não havia nada disso nas minhas instruções. Quase entrei em pânico. Aí, vi outro índio de cueca Zorba, assobiando o tema de Pantanal, me fazendo sinais desesperados com uma latinha de caviar.
É um mundo pequeno.
Novas ordens me levaram ao gabinete de segurança máxima do Tuma, em Brasília. Uma sofisticada fortaleza, impossível de transpor se você não tem os meios adequados. Um bunker à prova de falhas, apesar de o entregador do Mister Pizza ter interrompido a reunião com duas calabrezas. Começou a discussão pra saber quem tinha feito o pedido. Saí pelos fundos. Tinha que voar com urgência pra São Paulo. Durante o voo, devido à tensão, me senti mal. Uma aeromoça, filiada à CUT, ia passando na horinha.
-Young lady...
- Tsk...
- Coffe, please.
- Qualé, babaca? Tá me achando com cara de garçon? Vai pro caralho!
Assim, não há mulato inzoneiro que aguente.
Próximo passo: eu precisava decifrar uma mensagem em código, durante uma palestra do Mário Amato, na Fiesp, sobre economia de mercado. É dose. Tava quase cochilando quando quatro capitães da Polícia Militar, munidos de bombas de flit, começaram a jogar dados e a dar umbigadas enquanto pisoteavam um japonês com um papagaio no ombro. A mensagem era cristalina: “Não tem mosquito. Dados oficiais: encontro às 4 P.M., na Baixa do Sapateiro, com um oriental. Senha: Currupaco”.
Adoro Salvador. ía acender o terceiro baseado quando vi o japa. Cheguei de fininho e mandei no ouvido dele:
- Currupaco.
Sei que é chocante, mas o Tanaca me olhou do cabelo escovinha ao tênis e disse:
- Vai pro caralho!
A última mensagem que recebi, antes de entrar pras Testemunhas de Jeová, dizia que Saddam Hussein é mineiro de Goiabinhas e que eu deveria, pra maiores esclarecimentos, localizar, a qualquer preço, um compositor baiano parecido com Bob Marley.
Pera lá, Pentágono! São mais de vinte mil! Vai pro caralho!
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

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