Aquele
que despreza o aplauso da multidão de hoje, é o que procura
sobreviver em renovadas minorias, durante gerações. “A
posteridade é uma sobreposição de minorias”, dizia Gounod.
Quer-se prolongar mais no tempo do que no espaço. Os ídolos das
multidões são derrubados prontamente por elas mesmas, e a sua
estátua desfaz-se ao pé do pedestal, sem que ninguém olhe para
ela, enquanto que aqueles que conquistam o coração dos escolhidos
receberão, por mais tempo, um culto fervoroso numa capela, ainda que
recolhida e pequena, mas que salvará as avenidas do esquecimento. O
artista sacrifica a grandeza da sua fama à sua duração; anseia
mais por durar sempre num recôndito, do que que brilhar um segundo
no universo todo; antes quer ser o átomo eterno e consciente de si
mesmo, do que a momentânea consciência do universo todo; sacrifica
a infinidade à eternidade.
Miguel
de Unamuno, in Do sentimento trágico
da vida
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