quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Cena carioca - VII

As ruas da Tijuca, apesar de muito poluídas, até que não são desagradáveis para a prática do jogging, cooper, operação pega-ladrão, etc... O que atrapalha um pouco são as granadas. Mas, diante das declarações do Ministro da Justiça sobre a terra dos yanomâmis, granada, convenhamos, é café pequeno. A profissão do jovem que, na pena do Lan, se manda com a bolsa, foi reconhecida oficialmente pela Presidência da República. Haja déficit público. A categoria dos gatunos, descuidistas e técnicos em balão apagado estuda projeto de formação de quadrilha paralela, com representante no Conselho Nacional de Economia.
Orgulho-me de conhecer um pouquinho a turma da remota batucada, os olhos verdes da mulata, cismadores e fatais. Não me surpreendo com o fato dos contratos de edição musical valerem por mais 60 anos após a morte do autor. Nem mesmo o Robertão dando-pra-receber me assusta. Mas juro que nunca imaginei, por mais nefandos que sejam meus pensamentos, por imundas que se revelem minhas elocubrações, repito, nunca imaginei ouvir do Ministro da Justiça uma frase do tipo:
- Era ilegal até ontem. Hoje, tendo saído no Diário Oficial, não é mais.
Ou seja: aqueles índios esquálidos, aquelas crianças perebentas dependuradas em seios murchos, todas aquelas mortes constituem ajuste fiscal. Uma espécie de queima de arquivo, entende?
Baiano tem um amigo na Ilha do Governador, o Xumbrega, que saiu, às seis da matina, pra comprar siris e caranguejos. Motivo: desejo de mulher grávida. Desejo e pressa.
- Eu quero comer os bichinhos no almoço, tá?
Xumbrega resmungou um deixa comigo. E voltou às oito. No dia seguinte. Espalhou os mal-cheirosos crustáceos na entrada da casa. Quando a mulher apareceu pra reclamar, ele justificou:
- Eles se soltaram e eu tive que vir tangendo. Ôôô, siri!
Proponho que um decreto contemple Xumbrega com o Ministério da Justiça. Ele também mente de um jeito infame, mas é muito mais engraçado.
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

Nenhum comentário:

Postar um comentário