segunda-feira, 2 de julho de 2018

Guirá Nãndu

Para Teodoro (sob a Constelação da Ema, cujas penas são desenhadas por claro-escuros da Via Láctea)

Pode que a noite hoje
se furte a amanhecer
a terra desmorone
nos bordos do poente
e outra vez o sol
como antes
não desponte

em busca de outro sol
pode alguém se perder
abandonando o humano
para encontrar seu deus
– o mesmo que ao nascer
deu-lhe um nome secreto
de sua divindade
perfeito e repleto

pode que na viagem
no trajeto disperso
um homem adivinhe
a vereda possível
sem fim, de sol a sol
até que a fome e a febre
o êxtase à flor da pele
a intempérie, a prece
a dança em excesso
transportem o corpo adverso
e o espírito pulse
e respire
e confronte
o mar que o separa
da terra indestrutível

quem sabe o paraíso
que descrevem os antigos
não esteja além do vasto
nevoeiro e sargaço
mas no árduo percurso
vencido passo a passo
sem bússola ou mapa do céu
em pergaminho
talvez além do zênite
que ofusca o caminho
deixando um invisível
roteiro para os olhos
que enfrentam o escuro
entre os dois
crepúsculos.
Josely Vianna Baptista

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