As fintas dos
jogadores uruguaios, que desenhavam sucessivos oitos no campo,
eram chamadas de moñas – laços de fita. Os jornalistas
franceses quiseram conhecer o segredo daquelas bruxarias que
petrificavam os adversários. José Leandro Andrade, usando
intérprete, revelou a fórmula: os jogadores treinavam correndo
atrás de galinhas, que fugiam fazendo esses. Os jornalistas
acreditaram e publicaram.
Trinta anos depois,
as boas fintas eram ainda aplaudidas como gols no futebol
sul-americano. Minha memória de criança está cheia delas. Fecho os
olhos e vejo, por exemplo, Walter Gómez, aquela vertigem abre-alas,
que se metia no emaranhado das pernas inimigas e de finta em finta ia
deixando uma esteira de caídos. Os torcedores confessavam:
A gente já não
come,
só para ver Walter
Gómez.
Gostava de amassar
a bola; quando a tomavam dele, se ofendia. Nenhum técnico seria
capaz de dizer a ele o que se diz hoje em dia:
– Se quiserem
amassar, busquem emprego numa padaria.
A finta não era só
uma travessura permitida: era uma alegria exigida.
Hoje em dia, estas
ourivesarias estão proibidas, ou pelo menos vigiadas sob grave
suspeita: agora, são consideradas exibicionismos egoístas, que
traem o espírito de equipe e são perfeitamente inúteis diante dos
férreos sistemas defensivos do futebol moderno.
Eduardo Galeano,
in Futebol ao sol e à sombra
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