segunda-feira, 23 de julho de 2018

As moñas

As fintas dos jogadores uruguaios, que desenhavam sucessivos oitos no campo, eram chamadas de moñas – laços de fita. Os jornalistas franceses quiseram conhecer o segredo daquelas bruxarias que petrificavam os adversários. José Leandro Andrade, usando intérprete, revelou a fórmula: os jogadores treinavam correndo atrás de galinhas, que fugiam fazendo esses. Os jornalistas acreditaram e publicaram.
Trinta anos depois, as boas fintas eram ainda aplaudidas como gols no futebol sul-americano. Minha memória de criança está cheia delas. Fecho os olhos e vejo, por exemplo, Walter Gómez, aquela vertigem abre-alas, que se metia no emaranhado das pernas inimigas e de finta em finta ia deixando uma esteira de caídos. Os torcedores confessavam:
A gente já não come,
só para ver Walter Gómez.
Gostava de amassar a bola; quando a tomavam dele, se ofendia. Nenhum técnico seria capaz de dizer a ele o que se diz hoje em dia:
Se quiserem amassar, busquem emprego numa padaria.
A finta não era só uma travessura permitida: era uma alegria exigida.
Hoje em dia, estas ourivesarias estão proibidas, ou pelo menos vigiadas sob grave suspeita: agora, são consideradas exibicionismos egoístas, que traem o espírito de equipe e são perfeitamente inúteis diante dos férreos sistemas defensivos do futebol moderno.
Eduardo Galeano, in Futebol ao sol e à sombra

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