Andrade
A Europa nunca
tinha visto um negro jogando futebol. Na Olimpíada de 24, o uruguaio
José Leandro Andrade deslumbrou com suas jogadas de luxo. No meio de
campo, este homenzarrão de corpo de borracha carregava a bola sem
tocar o adversário, e quando se lançava ao ataque, contorcendo o
corpo esparramava um mundo de gente. Numa das partidas, atravessou
meio campo com a bola dominada na cabeça. O público o aclamava, a
imprensa francesa chamava-o de A Maravilha Negra.
Quando o torneio
terminou, Andrade ficou um tempo ancorado em Paris. Ali foi boêmio
errante e rei de cabaré. As botas de verniz substituíram as
alpargatas que tinha trazido de Montevidéu e um chapéu com aba
ocupou o lugar do gorro velho. As crônicas da época saudavam a
estampa daquele monarca das noites de Pigalle: o passo elástico e
dançarino, o esgar gozador, os olhos entrecerrados que sempre
olhavam de longe, e uma pinta de matar: lenço de seda, paletó
listado, luvas amarelo-claras e bengala com empunhadura de prata.
Andrade morreu em
Montevidéu, muitos anos depois. Os amigos tinham programado muitas
festas em seu benefício, mas nenhuma chegou a ser realizada. Morreu
tuberculoso, na mais completa miséria.
Foi negro,
sul-americano e pobre, o primeiro ídolo internacional do futebol.
Eduardo Galeano,
in Futebol ao sol e à sombra
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