Nunca se deve
deixar um defunto sozinho. Ou, se o fizermos, é recomendável tossir
discretamente antes de entrar de novo na sala. Uma noite em que eu
estava a sós com uma dessas desconcertantes criaturas, acabei
aborrecendo-me (pudera!) e fui beber qualquer coisa no bar mais
próximo. Pois nem queira saber… Quando voltei, quando entrei
inopinadamente na sala, estava ele sentado no caixão, comendo
sofregamente uma das quatro velas que o ladeavam! E só Deus sabe o
constrangimento em que nos vimos os dois, os nossos míseros gestos
de desculpa e os sorrisos amarelos que trocamos…
Mário Quintana,
in Melhores poemas
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