Os instrumentos
para uma transformação como é o caso do marxismo representam um
“não”. O “não” é o que põe em causa, rejeita, questiona.
O que tem acontecido sempre é que esses “nãos” acabam por
converter-se em “sins” e acabam por converter-se em “sins” no
sentido cada vez menos positivo que a palavra “sim” pode assumir
numa certa fase. A Revolução de Outubro foi o “não” ao
czarismo, ao poder absoluto. Houve o momento de esperança, e depois
este “não” transformou-se em “sim”, o “sim” que leva à
burocracia, ao autoritarismo, a tudo de que deu abundantes provas a
abortada tentativa de estabelecer o socialismo na União Soviética.
O “não” inicial, mesmo que já contivesse os germes do que
aconteceu depois, ficou num “sim”, ao qual foi preciso outra vez
dizer “não”.
José Saramago,
in As palavras de Saramago
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