domingo, 10 de junho de 2018

Do "não e do "sim"

Os instrumentos para uma transformação como é o caso do marxismo representam um “não”. O “não” é o que põe em causa, rejeita, questiona. O que tem acontecido sempre é que esses “nãos” acabam por converter-se em “sins” e acabam por converter-se em “sins” no sentido cada vez menos positivo que a palavra “sim” pode assumir numa certa fase. A Revolução de Outubro foi o “não” ao czarismo, ao poder absoluto. Houve o momento de esperança, e depois este “não” transformou-se em “sim”, o “sim” que leva à burocracia, ao autoritarismo, a tudo de que deu abundantes provas a abortada tentativa de estabelecer o socialismo na União Soviética. O “não” inicial, mesmo que já contivesse os germes do que aconteceu depois, ficou num “sim”, ao qual foi preciso outra vez dizer “não”.
José Saramago, in As palavras de Saramago

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