quarta-feira, 16 de maio de 2018

Não meto a mão no fogo

Não meto a mão no fogo” por alguém é não responsabilizar-se pela inocência alheia.
Uma das justificações nos ordálios da Idade Média era a prova do ferro caldo. Quem alegava inocência submetia-se a pegar numa barra de ferro aquecida ao rubro e caminhar com ela na mão por alguns metros. Envolvia-se a mão em estopa, selada com cera, e três dias depois abria-se a atadura. Se a mão estivesse ilesa, sem sinal de queimadura, era evidente e provada a inocência. Se tivesse queimadura, provada estava a culpabilidade e era imediata a punição pela forca.
Um episódio tradicional em Portugal verificar-se-ia em Leça do Balio, ao redor de 1324, com Marina, esposa de Estêvão Gontines, acusada de adultério, levando o ferro caldo sem que a mão sofresse a menor injúria. Motivou o romance de Arnaldo Gama (1828-1869), Balio de Leça. A prova do ferro caldo ainda foi empregada em Portugal ao correr do século XIV.
Um índice da permanência dessa purgação no espírito do povo é a frase, comuníssima no Brasil, em Portugal, Espanha e França: Não boto ou boto a mão no fogo, referindo-se à inocência ou culpa de alguém.
Luís da Câmara Cascudo, in Coisas que o povo diz

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