Esta
língua não é minha,
qualquer
um percebe.
Quando
o sentido caminha,
a
palavra permanece.
Quem
sabe mal digo mentiras,
vai
ver que só minto verdades.
Assim
me falo, eu, mínima,
quem
sabe, eu sinto, mal sabe.
Esta
não é minha língua.
A
língua que eu falo trava
uma
canção longínqua,
a
voz, além, nem palavra.
O
dialeto que se usa
à
margem esquerda da frase,
eis
a fala que me lusa,
eu,
meio, eu dentro, eu, quase.
Já
disse de nós.
Já
disse de mim.
Já
disse do mundo.
Já
disse agora,
eu
que já disse nunca.
Todo
mundo sabe,
eu
já disse muito.
Tenho
a impressão
que
já disse tudo.
E
tudo foi tão de repente.
desastre
de uma ideia
só
o durante dura
aquilo
que o dia adiante adia
estranhas
formas assume a vida
quando
eu como tudo que me convida
e
coisa alguma me sacia
formas
estranhas assume a fome
quando
o dia é desordem
e
meu sonho dorme
fome
da china fome da índia
fome
que ainda não tomou cor
essa
fúria que quer
seja
lá o que flor.
Paulo
Leminski
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