ele
era um bastardo muito rico num banho a vapor, chorando. tinha todas
as gravações de J. S. Bach e ainda assim não estava adiantando
nada. possuía vitrais nas janelas da sua casa mais uma foto de uma
freira mijando. ainda assim: nada. certa vez teve um motorista de
táxi assassinado com a lua cheia no Deserto de Nevada enquanto
observava. aquilo passou em 30 minutos. amarrava cães em cruzes e
queimava os seus olhos com charutos. coisa antiga. tinha fodido
tantas mulheres jovens e finas e de pernas douradas que isso já não
era mais bom.
nada.
tinha
cheiros exóticos queimando enquanto se banhava, jogava bebidas na
cara do criado.
um
bastardo rico, uma pasta insidiosa era o que ele era. um verme e
velho e realmente repugnante. um cuspe no culhão das rosas.
ele
continuava chorando ali em cima da mesa enquanto eu fumava um dos
seus charutos.
“me
ajude, oh JESUS, me ajude!”, gritava.
já
era tempo. “espere um minuto”, disse a ele.
fui
até o armário e apanhei o cinto e então ele curvou-se sobre a
mesa, toda aquela massa branca e informe, aquele cu nojento e
cabeludo, e eu girei e castiguei com força a fivela do cinto em cima
dele repetidas vezes:
ZAP!
ZAP!
ZAP!
ZAP! ZAP!
caiu
da mesa como um siri atrás de água. rastejou pelo chão e eu o
segui com a fivela.
ZAP!
ZAP!
ZAP!
enquanto
ele gritava de novo duas ou três vezes mais eu me inclinei para
baixo e queimei ele com o charuto. aí então ele se prostrou,
sorrindo. caminhei até a cozinha, onde seu advogado sentava tomando
café.
“terminou?”
“hã
hãn.”
ele
tirou cinco de dez, jogou-as ao longo da mesa. servi-me de café e
sentei. o charuto ainda estava na minha mão. joguei ele na pia.
“jesus”,
disse eu, “Jesus Cristo.”
“é”,
disse o advogado, “o último cara durou apenas um mês.” ficamos
ali bebericando o café. era uma bela cozinha.
“volte
na próxima quarta-feira”, disse.
“por
que que você não faz isso por mim?”, perguntei.
“EU?
eu sou muito sensível!”
nós
dois rimos e eu coloquei cubos de açúcar no café.
Charles
Bukowski Lispector, in Notas de um velho safado
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