A
melhor agência de namoro é comprar uma passagem para bem longe.
Quanto
mais longe, maior a chance de ser feliz. Não precisa usar o bilhete,
é adquirir, pôr no bolso e andar com aquele olhar irresistível de
janela redonda de avião.
Sempre
repercute: todo mundo sente que vamos embora e ganhamos importância
amorosa. Mais imbatível do que usar aliança, do que borrifar
perfume de boto, do que afogar estátua de Santo Antônio.
Quer
se apaixonar? Invente uma viagem. Mas tem que pagar para fazer
efeito. O destino confere os depósitos bancários.
A
despedida é um afrodisíaco veemente. Ficamos abertos e receptivos
ao acaso.
Durante
os veraneios da adolescência, em Rainha do Mar, eu me ligava na
menina no último dia de férias, quando era condenado a voltar para
a capital. Amiga do interior confessava que me amava um pouco antes
de entrar no carro cheio de malas e tralhas. Dava um selinho, corria
em direção aos pais e trocávamos cartas ansiosas pelo reencontro
ao longo do ano.
É
ter um compromisso certo e inadiável para arrumar uma paixão. Sem
antítese, não há dialética, não se chega à síntese.
Adoramos
uma encruzilhada, confusão, dúvidas. Adoramos a ambiguidade do
aceno, que pode ser um oi e um tchau.
Ao
tomar um caminho, surge outra opção até então invisível. É
programar um intercâmbio no exterior que nos envolveremos na noite
anterior ao embarque. É realizar sonho profissional de trabalhar na
Europa que antigo amor vem suplicar reconciliação. O aeroporto e a
rodoviária são altares, cupidos, balcões de suspiros.
Se
você é solteiro, não entre em chats, não crie perfis falsos, não
perca tempo.
As
mulheres são alucinadas por homens com malas. Os homens são
alucinados por mulheres atravessando o detector de metais.
Se
não consegue namorado/namorada, gire o globo, pare um país com o
dedo e arrebate passagens.
A
distância influencia a longevidade da relação. Menos de 200
quilômetros não traz cócegas. O arrebatamento é proporcional à
quilometragem. Viajar a Espumoso produzirá um rápido olhar 43,
Santo Ângelo resultará em flerte, Rio de Janeiro ocasionará um
caso, Natal renderá breve namoro, deslocamento ao Acre talvez pinte
noivado.
Mas,
para casar com véu e grinalda, aposte alto e compre passagem de ida
(somente de ida!) a Bangladesh.
Fabrício
Carpinejar, in Ai meu Deus, ai meu Jesus
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