Fotos
de amor são ridículas, mas ainda mais ridículo é nunca tirar
fotos de amor. Não há como esnobar certas aparições, manter pose
de intelectual e prometer que dessa máquina não beberei.
Existem
fotografias obrigatórias na nossa existência, fiascos essenciais
que continuaremos reproduzindo até o Juízo Final. Representam
estreias, nascimento, inaugurações, onde é impossível rejeitar o
clique. Guarde a reclamação e a timidez no estojo, ficará
condicionado a tolerar o xis, olhar o passarinho, arrumar um lugar na
barreira e aceitar as ordens de incentivo do fotógrafo.
São
imagens que partilham o mistério da música brega: ninguém conhece,
todos sabem a letra.
Referem-se
às cenas fundamentais do ciclo da vida, espécie de cartões-postais
familiares. Sem eles, a sensação é de que não nascemos, de que
não tivemos família, de que não pertencemos à normalidade
fotogênica do mundo.
É
o mesmo que visitar o Egito e não posar na frente das pirâmides,
visitar Paris e não ostentar a Torre Eiffel ao fundo do plano,
passar pela China e desdenhar as curvas da Muralha.
De
que flagrantes estou falando?
Daqueles
de que não podemos fugir, senão demonstraremos indiferença,
frieza, falta de emoção.
Daqueles
de que debochamos ao encontrar na gaveta dos outros e que ocupam a
maior parte de nossos porta-retratos.
Um
deles é a troca de cálices no casamento. Quando o noivo e a noiva
embaralham os braços. Apesar do desconforto tentacular, o casal tem
que sorrir. Qual o menos pior: este brinde de espumante ou o corte a
dois do bolo do casamento? Trata-se de uma disputadíssima
concorrência para abrir o álbum.
Lembro
também do clássico beijo do pai na barriga da gestante. A grávida
sempre está nua, o que é involuntariamente engraçado. O homem
surge agachado com roupa social diante de sua companheira pelada. Se
não fosse a criança por vir, estaria na parede de uma borracharia.
Não
dá para esquecer a grande angular do baile de debutantes: as
adolescentes como time de futebol, posicionadas em diferentes
degraus. E a nossa foto tomando o primeiro banho, usada pela mãe
para nos envergonhar na adolescência. E sem os dentes da frente, e
lambuzado de chocolate e sendo lambido pelo cachorro.
Fotos
ridículas e inesquecíveis, adequadas para chantagem e suborno, mas
que se tornam — por vias tortas — recompensas do amor.
São
justamente as fotos que vamos procurar para sentir saudade. E, ao
lado dos filhos, rir e chorar ao mesmo tempo.
Fabrício
Carpinejar, in Ai meu Deus, ai meu Jesus
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