quinta-feira, 8 de março de 2018

Tema antigo

Cara suja, perna torta
que recorta a rua em pedacinhos,
em busca de troco ou de carinho.
Sobra cadente a roupa na pele arrepiada.
Dorme ao relento, no saco de estopa,
filho de mãe morta, pai detento,
uma irmã vadia, outra viciada.
De seu canto de calçada,
vê a turba passar a sua urgência
como fosse estouro da boiada.
É caça ao tesouro ou testam resistência?
Quando ele crescer,
se a fome não ganhar,
se a cola não roer,
também quer chegar a algum lugar.
Caso consiga dominar sua desdita,
ele quebra a garrafa e corta a fita
como num gesto de inauguração
de quem começou coisa bonita.
Mas caco de vidro, cuspe, navalha, boné,
molambo, menino, bandalho, Zé.
Flora Figueiredo

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