Viviam,
num país do Oriente, cinco cegos que mendigavam juntos à beira de
um caminho. Eram amigos em virtude de seu infortúnio comum. Todos
tinham um grande desejo. Já haviam ouvido falar de um animal
extraordinário, enorme, chamado elefante. Tão maravilhoso era o
dito animal que muitos afirmavam que era divino. Mas eles, pobres
cegos, nunca haviam estado com um elefante. Ah! Como gostariam de
conhecer um elefante. Aconteceu, porque Alá ouviu suas preces, que
um domador de elefantes foi por aquele caminho conduzindo seu animal.
Foi uma festa! A criançada gritando, homens e mulheres falando.
Ouvindo tal rebuliço, os cegos perguntaram: “O que está
acontecendo?”. “Um elefante, um elefante”, responderam. Eles se
encheram de alegria e pediram ao domador que os deixasse tocar o
elefante, já que ver não podiam. O domador parou o animal e os
cegos se aproximaram. Um deles foi pela traseira, agarrou o rabo do
elefante e ficou encantado. O segundo foi pelo lado, abraçou uma
perna e ficou encantado. O terceiro apalpou o lado do elefante e
ficou encantado. O quarto passou as mãos nas orelhas do elefante e
ficou encantado. E o último segurou a tromba e ficou encantado. Ido
o elefante, os cegos começaram a conversar. “Quem diria que o
elefante é como uma corda!”, disse o primeiro. “Corda coisa
nenhuma”, disse o segundo: “É como uma palmeira”. “Vocês
estão loucos”, disse o terceiro. “O elefante é como um muro
muito alto.” “Vocês não são só cegos dos olhos”, disse o
quarto. “São também cegos da cabeça, pois é claro que o
elefante é como uma ventarola.” “Doidos, doidos”, disse o
quinto. “O elefante é como uma cobra enorme...” Por mais que
conversassem, eles não conseguiram chegar a um acordo. Começaram a
brigar. Separaram-se. E cada um deles formou uma seita religiosa
diferente: a seita do deus corda, a seita do deus palmeira, a seita
do deus parede, a seita do deus ventarola, a seita do deus cobra...
Assim são as religiões.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
ai ai ai
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