Não
acho que [se comprometer com causas humanitárias] seja algo que cabe
aos intelectuais. Acho que isso cabe aos cidadãos de maneira geral.
Se atribuímos funções ou missões particulares ou especiais aos
intelectuais, arriscamo-nos a cair em algo que não é bom: achar que
algumas poucas pessoas, não se sabe por quê, têm uma função
determinada, que seria dizer aos outros: “É por aqui que temos de
ir, vocês estão errados indo por aí”. Não, quem faz isso é a
Igreja. O intelectual tem que ser crítico, mas tem que ser crítico
não pelo fato de ser intelectual — ou sim, um pouco, pois tem uma
responsabilidade —, mas porque o senso crítico deveria ser algo
que todos os cidadãos teriam. O que ocorre é que, se o intelectual
se compromete com essa causa ou outras, então o fato de ele ser um
escritor torna sua intervenção mais visível, faz com que sua
palavra chegue mais adiante, mais longe.
José
Saramago, in As palavras de Saramago
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