Fonte: Google Imagens
Eu
ia guiando o meu carro pelos caminhos de Minas Gerais enquanto ouvia
o Messias, de Haendel. Percebi então, repentinamente (as
revelações sempre acontecem de repente), as razões por que amo
tanto aqueles lugares. É que lá eu retorno, ainda que por um curto
espaço de tempo, ao mundo barroco, e experimento a felicidade da
alienação... Tudo é harmonia. Os beija-flores flutuam. No campo
verde, as vacas pastam tranquilamente. Ao lado direito, o rio escorre
entre as pedras. O vento balança as árvores. As flores florescem
como sempre floresceram. No céu azul, as nuvens navegam sem saber
para onde vão. “As nuvens são dos rios seus claros pensamentos
que um dia serão rios...”, assim viu o Heládio Brito. Será que
as flores são os pensamentos da terra? Tudo gira, tudo volta ao
início. O belo quer voltar, repetir-se, eternamente. Todos os seres
são belos. Cada um deles é uma nota no coral de Bach que o universo
entoa. Todos os seres são o que deviam ser. O universo é uma
catedral. O céu é uma abóbada esférica onde o Sol, a Lua e as
estrelas giram seu giro eterno à nossa volta. Do céu, Deus, que
tudo vê, garante que as coisas serão sempre assim. Ah! Giordano
Bruno! Você quis destruir esse mundo esférico dizendo que o
universo era infinito... Mas o infinito é aquilo que não tem forma.
Não tendo forma, não pode ser belo! Você não compreendeu que, ao
afirmar que o universo era infinito, estava roubando dos homens a sua
perfeição estética? Ouço Haendel. O universo é música.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
Gostei! Escreva mais 😊😊
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