sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O universo é música

Fonte: Google Imagens

Eu ia guiando o meu carro pelos caminhos de Minas Gerais enquanto ouvia o Messias, de Haendel. Percebi então, repentinamente (as revelações sempre acontecem de repente), as razões por que amo tanto aqueles lugares. É que lá eu retorno, ainda que por um curto espaço de tempo, ao mundo barroco, e experimento a felicidade da alienação... Tudo é harmonia. Os beija-flores flutuam. No campo verde, as vacas pastam tranquilamente. Ao lado direito, o rio escorre entre as pedras. O vento balança as árvores. As flores florescem como sempre floresceram. No céu azul, as nuvens navegam sem saber para onde vão. “As nuvens são dos rios seus claros pensamentos que um dia serão rios...”, assim viu o Heládio Brito. Será que as flores são os pensamentos da terra? Tudo gira, tudo volta ao início. O belo quer voltar, repetir-se, eternamente. Todos os seres são belos. Cada um deles é uma nota no coral de Bach que o universo entoa. Todos os seres são o que deviam ser. O universo é uma catedral. O céu é uma abóbada esférica onde o Sol, a Lua e as estrelas giram seu giro eterno à nossa volta. Do céu, Deus, que tudo vê, garante que as coisas serão sempre assim. Ah! Giordano Bruno! Você quis destruir esse mundo esférico dizendo que o universo era infinito... Mas o infinito é aquilo que não tem forma. Não tendo forma, não pode ser belo! Você não compreendeu que, ao afirmar que o universo era infinito, estava roubando dos homens a sua perfeição estética? Ouço Haendel. O universo é música.
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

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