“Meu
corpo sentia-se à vontade sobre o calor da areia. Tinha os olhos
fechados, os braços abertos, as pernas desdobradas para a brisa do
mar. E o mar ali em frente, distante, deixando apenas restos de
espuma em meus pés, quando a maré subia...”
— Agora
sim é ela falando, Juan Preciado. Não se esqueça de me dizer o que
ela diz.
“…
Era cedo. O mar corria e baixava em
ondas. Soltava-se da sua espuma e ia embora, limpo, com sua água
verde, em ondas caladas.
“— No
mar só sei me banhar nua — disse a ele. E ele me seguiu no
primeiro dia, nu também, fosforescente ao sair do mar. Não havia
gaivotas; só esses pássaros que chamam de ‘bicos feios’, esses
tucanos grunhem como se roncassem e que depois que o sol sai
desaparecem. Ele me seguiu no primeiro dia e sentiu-se só, apesar de
eu estar ali.
“— É
como se você fosse um ‘bico feio’, um a mais entre todos — me
disse. — Gosto mais de você nas noites, quando estamos os dois no
mesmo travesseiro, debaixo dos lençóis, na escuridão.
“E
se foi.
“Eu
voltei. Voltaria sempre. O mar molha meus tornozelos e vai embora;
molha meus joelhos, minhas coxas; rodeia minha cintura com seu braço
suave, dá voltas sobre meus seios; se abraça ao meu pescoço;
aperta meus ombros. Então me afundo nele, inteira. E me entrego a
ele em seu bater forte, em seu suave possuir, sem deixar pedaço.
“—
Gosto de tomar banho no mar — disse a
ele.
“Mas
ele não entende.
“E
no outro dia estava outra vez no mar, me purificando. Entregando-me
às suas ondas.”
Juan
Rulfo, in Pedro Páramo
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