O
motoboy entregou o pacote de cartas e disse:
— Ele
falou que tinha resposta.
—
Espera — disse ela.
E
pôs-se a examinar as cartas. Procurava uma em especial, que não
encontrou. Fez um sinal para o motoboy aguardar enquanto telefonava.
—
Alô...
—
Amauri, cadê a carta do ursinho?
Era
uma das primeiras cartas que ela tinha lhe mandado. Ainda eram
namorados. Uma carta toda escrita como se fosse de uma criança para
o seu ursinho de pelúcia.
— Eu
mandei. Não mandei?
— Não.
E se você não mandar a carta do ursinho eu não mando as suas.
—
Heleninha...
— Não
tem “Heleninha”, Amauri. Ou você manda todas as minhas cartas ou
eu começo a mostrar as suas. Sou capaz até de publicá-las. Quero
ver como fica a sua reputação no meio.
— Eu
pensei em guardar pelo menos uma carta sua, Heleninha.
— Logo
a mais ridícula? Devolve a minha carta, Amauri. Nosso trato foi
esse. Todas as cartas.
— Deixa
eu ficar só com esta. É a minha favorita.
— Eu
sei o que você está pensando, Amauri. Quer ficar com a carta para
me chantagear depois.
—
Chantagear, Heleninha?!
—
Chantagear. Eu conheço você.
—
Heleninha! Eu acho essa carta linda. Uma
lembrança do tempo em que a gente se amava.
— Não
banca o sentimental comigo, Amauri. Essa carta é só um exemplo das
baboseiras que a gente diz e escreve quando acha que o amor nunca vai
acabar. Mas o amor acaba e fica a baboseira. Me devolve essa carta,
Amauri!
—
Heleninha, você lembra como eu chamava
você? Na cama?
— Eu
não quero ouvir!
—
Lembra? Está certo, era baboseira. Mas
era bonito. Era carinhoso. Eu era o seu ursinho e você era a
minha...
—
Amauri, manda essa carta ou eu publico as
suas. Já sei exatamente para quem mandar a primeira.
— Está
bem, Heleninha. Manda o motoboy de volta.
Luís
Fernando Veríssimo, in Amor Veríssimo
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