Fui
sabatinado por quatro jornalistas da Folha
e por aqueles que estavam no teatro. Dos ouvintes veio-me uma
pergunta: “Você acredita em Deus?”. Como a pergunta era vaga
perguntei: “Qual Deus?”. A pessoa não entendeu. Expliquei então:
“Há muitos deuses, cada um com a cara e o coração daquele que o
tem dentro do peito. O Deus de são Francisco não era o Deus de
Torquemada. São Francisco usava o fogo do seu Deus para aquecer a
alma. Torquemada usava o fogo do seu Deus para churrasquear hereges
em fogueiras que eram a diversão do povo”. Como a pessoa não
soubesse me esclarecer o assunto, adiantei-me e confessei. “Não
sei se acredito em Deus. Mas sei que sou um construtor de altares”.
Construo os meus altares com poesia e música. Os altares têm de ser
belos. Eu os construo diante de um abismo profundo, escuro e
silencioso. Os fogos que neles acendo iluminam o meu rosto e me
aquecem. Mas o abismo continua o mesmo: escuro, frio, silencioso.
Rubem
Alves,
in Ostra
feliz não faz pérola
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